sábado, 19 de dezembro de 2009

ECOLOGIA

ANALISAR A QUESTÃO ECOLÓGICA E REPENSAR A SOCIEDADE
Rosineide Fabricio
professora de geografia

Vivemos hoje uma grande crise ambiental, são enchentes, secas prolongadas, processos de desertificação de grandes áreas, e muitas outras catástrofes que ocorrem no planeta. A idéia difundida é que esses processos de destruição não escolhem lugar nem pessoas para atingir e que o grande vilão da história é o “homem”. Este “homem”, predador por natureza, que tentam nos fazer acreditar, não possui classe social, pois pode estar em qualquer uma delas, pode ser um burguês que polui os rios com os dejetos de suas indústrias, ou um trabalhador que despossuído de qualquer meio de produção, é obrigado a vender sua força de trabalho por um salário de fome.
Para entendermos com profundidade a questão ecológica, não podemos ficar apenas na aparência, é necessário analisarmos o problema de uma outra dimensão, pois do contrário estaremos sendo enganados pelas falsificações feitas pelos meios de comunicação de massa, que estão a todo tempo com seus programas de ilusões preservacionistas, tentando ocultar os fatos reais, sempre colocando o explorador e o explorado em pé de igualdade na destruição da natureza. Redimensionar a questão significa questionar respostas prontas, entender que é preciso um aprofundamento teórico, para denunciar as verdadeiras causas desse massacre da natureza.
O sistema capitalista imperialista é baseado na espoliação da natureza, cujo objetivo é o lucro a qualquer preço. Como nos lembra Marx “A essência da sociedade burguesa é a acumulação privada de capital”, portanto a natureza neste sistema nada mais é do que uma mercadoria que deve servir aos interesses imediatos e sempre poluidores e devastadores da classe dominante. Embora esse processo seja sempre ocultado, ele não é novo, visto que Engels em sua célebre obra A situação da classe trabalhadora na Inglaterra, escrita em 1845, já denunciava as péssimas condições de vida dos trabalhadores, sendo que a degradação e a poluição, embora fossem responsabilidade dos patrões, quem sofria na pele eram os operários. Estes submetidos a exaustivas jornadas de trabalho, fazendo com que morressem muito cedo de tanto trabalhar, de fome ou de doenças provocadas pelos dejetos podres que empesteavam os rios e consequentemente as moradias. Numa passagem de seu livro podemos ler a seguinte constatação:

Num destes pátios, precisamente na entrada, na extremidade do corredor coberto, há banheiros sem portas e tão sujos que os habitantes para entrarem ou saírem do pátio tem que atravessar um charco de urina pestilenta e de excrementos que rodeia estes locais; [...] nas margens do curso de água, há várias fábricas de curtumes que empesteiam toda a região com o fedor que emana da decomposição das matérias orgânicas”.

Os ideólogos do capital sempre instrumentalizam o problema ecológico a seu favor com a fórmula mágica travestida de “sustentabilidade”, como se fosse possível equilibrar os interesses do lucro com preservação ambiental. Devemos entender também que não basta preservar o espaço natural como algo contemplativo e preservacionista, que visa apenas separar ainda mais o trabalhador de sua produção.
A luta ecológica não pode estar descolada da luta revolucionária, pois pensar em mudanças radicais é pensar também na construção de uma outra sociedade, que priorize a vida e que tenha como perspectiva histórica a emancipação humana. Para tanto se faz necessário a destruição da propriedade privada dos meios de produção, em especial, no caso brasileiro, do latifúndio que trás a fome, que destrói os solos, que desmata, gerando a seca e várias mazelas destruidoras da vida. A terra deve ser usufruída por quem nela trabalha e dela necessita; que a natureza seja vista e utilizada como um bem coletivo, capaz de suprir as necessidades humanas; que o consumismo, grande culpado da produção de lixo, conseqüências da ostentação e abusos da burguesia, sejam extirpados dando lugar a produção voltada para coletividade.
Diante de todas essas constatações é urgente pensarmos em construir um outro modelo de sociedade, onde a produção seja planejada de acordo com as necessidades do ser humano e não para garantir lucros a uma minoria em detrimento da vida no planeta. Um modelo onde todos o seres humanos desempenhem suas pontencialidades através de seu trabalho, conscientes de que este é necessário para a existência humana e não para garantir mais-valia para certos parasitas da sociedade, como ocorre no capitalismo. Enfim, como já afirmou Engels: uma sociedade que exija “de cada um segundo a suas potencialidades” e que forneça “a cada um segundo as suas necessidades”. Esta é a única maneira de conter os desastres ambientais que vem ocorrendo e que, certamente, levarão à destruição completa do planeta, caso o lucro continue sendo o objetivo único da sociedade.
Ainda que a maioria não perceba ou tente negar, a busca pela preservação ambiental em um sentido amplo de totalidade, passa necessariamente pela construção do socialismo, que se caracteriza histórica e dialeticamente como o único sistema capaz de frear a destruição total da natureza e colocar a ciência e a técnica a serviço da humanidade, como nos lembra as sábias palavras de Rosa Luxemburgo, “Socialismo ou Barbárie!”.

Um comentário:

  1. Concordo com você Rosineide. De fato a questão ecológica é algo que precisa ser repensado a partir do modelo de sociedade. Sem revolução socialista não há solução para esta questão.

    Sirlei - professora de geografia do Amazonas

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